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sexta-feira, 15 de março de 2013


Obra-prima de Raul Pompeia, “O Ateneu” é um romance que oscila entre a ficção e a realidade; porém, o tema central do livro é universal: a solidão. Sérgio, um menino muito apegado à família, é matriculado num internato, o famigerado Ateneu, escola reconhecida como uma das melhores e mais rigorosas de seu tempo. É aí, centrado nos dois anos em que passou no internato, narrado em primeira pessoa, que se desenrola o drama de uma criança que vê desmoronar os restos de sua infância em meio à dureza de um lugar hostil, composto por figuras arrogantes e hipócritas que mascaram seus defeitos com um jogo de aparências que nem de longe correspondem à realidade.
Sérgio passa a viver num ambiente opressivo, onde ninguém é confiável nem age sem segundas intenções. Todas as suas tentativas de fazer amizades são frustradas, pois paira no lugar um clima sombrio de egoísmo, acentuado pela presença desagradável e caricata do diretor Aristarco, que, assim como todos os demais, tenta passar uma imagem de austeridade quando é, na verdade, um sujeito cínico e amoral. Nesse cenário repleto de acontecimentos de carga emocional pesada, como algumas insinuações homossexuais, ocasionadas pelo isolamento e pelo despertar da sexualidade na adolescência reprimida, Sérgio se vê realmente sozinho, compreendendo, à força as palavras do pai, que lhe diz que ali ele “encontrará o mundo e que deve ser forte para a luta”. Uma luta que revelar-se-á muito mais psicológica do que física. Ao invés de sair do Ateneu fortalecido por uma suposta disciplina escolar, Sérgio sai dali profundamente magoado e traumatizado com as amarguras e constrangimentos por que teve de passar.
“O Ateneu” é um livro complexo, de leitura difícil, é necessário dizer. A linguagem adotada pelo autor é rebuscada, daquelas que exigem um dicionário para sua plena compreensão. Mais que isso, as ideias abordadas pelo autor são angustiantes, de uma carga psicológica sufocante, motivo pelo qual Raul Pompeia é um dos poucos autores do seu tempo a seguir alguns caminhos trilhados por Machado de Assis: um realismo psicológico impressionante, associado também a alguns elementos naturalistas adotados por Aluísio Azevedo. Contudo, “O Ateneu” consegue se distinguir de tudo já produzido, por ter uma narrativa tanto rebuscada quanto irônica, de um ponto de vista amargo e sarcástico. O próprio colégio Ateneu é uma representação do “microcosmo” do País, com sua população cheia de mazelas dirigida, isto é, governada, por um déspota (Aristarco é uma representação ridicularizando o Imperador do Brasil da época).
Tenho que admitir que este é um dos livros mais perturbadores que eu já li. Ele exala um clima tão desagradavelmente realista e sombrio, cheio de sarcasmo e pessimismo que chega a deprimir o leitor. Quanto ao seu conteúdo, ou seja, a busca existencial por amizades, companhia, o medo da solidão e, especialmente, o jogo de aparências que rege a sociedade, desde suas organizações menores (como é o caso do colégio Ateneu), sejamos sinceros: pouca coisa mudou de 1888 (ano de publicação do livro) até hoje...



Para fazer o download de "O Ateneu", no formato PDF, acesse o link a seguir:

2 comentários:

Unknown disse...

Apesar das variações diacrônicas da linguagem (sim, eu também usei um dicionário -risos), o livro consegue ainda ser bem realista, como você mesmo aponta, chocando muitas vezes, erotizando muitas outras. Devido a algumas leituras que faço em Psicologia (sou graduando), consigo enxergar muitos outros elementos que cuidariam de analisar o contexto do Ateneu, bem como o próprio comportamento tanto do personagem principal, quanto dos demais personagens. É uma questão de perspectiva, lógico. Bem, só fiquei me questionando do porquê você dar 9,0... Foi por causa da linguagem "rebuscada"?

Fábio TB disse...

Ouço muita gente criticar os clássicos por causa de sua linguagem complexa e até arcaica (note-se o período histórico das publicações), mas nunca tive este problema de desprezar uma leitura por seu rebuscamento. A propósito, O ATENEU foi uma das "batalhas" mais árduas de leitura por que já passei, o que não significa que foi ruim; encarei mais como um desafio. Quanto ao motivo da nota 9... bom, isto é também uma questão de perspectiva: analiso o conjunto como leitor antes do que como crítico (não me considero este último) e a nota é dada pelo "impacto" da obra, isto é, a impressão que ficou em mim após a leitura. Contudo, esta pontuação está mais relacionada à comparação da obra com seu período; Dessa forma, em relação a outras obras do período realista/naturalista, eu dou 9 a O ATENEU, assim como dou 10 a DOM CASMURRO.