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segunda-feira, 10 de agosto de 2015




Há alguns anos assisti ao filme FOME DE VIVER (The Hunger), de Tony Scott, clássico cult dos anos 80, que me chamou a atenção pelo visual sombrio e pela abordagem neogótica bastante original do vampirismo. Logo em seguida tomei conhecimento do romance que inspirou o filme, um livro bastante raro atualmente (uma vez que teve apenas duas edições, ambas publicadas no Brasil no início da década de 1980). Depois de muito procurar, finalmente encontrei um exemplar e pude mergulhar na atmosfera desse magnífico drama gótico.
A história gira em torno de Miriam Blaylock, uma vampira com muitos séculos de vida. Já aqui começa a originalidade do livro de Strieber: sua vampira não queima ao sol, não possui presas, não dorme em caixões nem se transforma em morcego. Na verdade, a própria palavra “vampiro” não é mencionada em nenhum momento no livro; esta é uma constatação a que se chega devido às características essenciais do vampirismo clássico: a imortalidade e a fome de sangue.
Miriam é uma criatura extremamente solitária; os seres da sua espécie estão quase extintos e só podem se multiplicar através da reprodução entre indivíduos dessa espécie. Assim sendo, Miriam sobrevive à passagem dos séculos tendo vários amantes humanos com os quais compartilha sangue; eles não se tornam vampiros, mas seres híbridos, que podem viver por séculos, mas com a mesma necessidade de sangue humano que os vampiros. Contudo, esses amantes têm “prazo de validade”: passados alguns séculos, sucumbem ao peso do tempo, envelhecendo em poucos dias o que deviam ter envelhecido em décadas. Transformam-se em cadáveres conscientes (literalmente, mortos-vivos) que Miriam “guarda” em baús por toda a eternidade, à medida que vai substituindo-os por amantes jovens.
Preocupada com esse ciclo interminável de trocas de amantes devido ao poder implacável do tempo, Miriam toma conhecimento do trabalho da Dra. Sarah Roberts, especialista em envelhecimento. A clínica em que Sarah trabalha está realizando experimentos sobre longevidade e a influência de Miriam altera radicalmente os rumos dessas experiências, criando um vínculo de sangue premeditado entre Miriam e Sarah, com desdobramentos trágicos.
“Fome de viver” é um poderoso romance gótico, excepcionalmente bem elaborado. A abordagem vampiresca (dado que sou fã dessa temática) surpreendeu-me bastante. O modo como o vampirismo é retratado é tão realista e natural que se torna crível, não sobrenatural ou mitológico. Ainda que os vampiros tenham ressuscitado como modismo adolescente, o livro de Whitley Strieber apresenta conceitos fascinantes e criativos acerca de tais seres. Não há puritanismo ou crises existenciais sobre o valor das vidas humanas tiradas. Ao invés disso há a frieza e crueldade instintivas da “espécie” e o forte apelo sexual (inclusive com descrições eróticas de muito bom gosto). A Fome de viver fala mais alto do que remorsos ou culpas, limitações ou receios. Enfim, uma obra pulsante, sombria, sensual e alucinadamente sangrenta: um relato impecável do poder e fascínio vampirescos.


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