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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014




Obra-prima de José de Alencar, correspondente à vertente indianista do Romantismo brasileiro, “Iracema” é, com certeza, um dos romances mais populares do nosso país. Na obra, o leitor se depara com o vigor narrativo alencariano sob uma perspectiva estruturalmente bem construída, na qual o autor entrelaça o fictício relacionamento amoroso da protagonista indígena Iracema,  (a “virgem dos lábios de mel”) e o “branco” Martim, acrescendo a isto uma intensa pesquisa histórica, notável na própria tessitura do livro, que evidencia aspectos “reais”, como as referências constantes à colonização brasileira, sobretudo às lutas por conquista de terras nordestinas.
Um aspecto peculiar de “Iracema” é a sua linguagem extremamente elaborada, não apenas pelo rebuscamento característico de Alencar e, genericamente, do próprio período literário, mas no que se refere aos mecanismos linguísticos adotados pelo autor de maneira impressionante e não tão presente em suas outras obras (mesmo as demais indianistas “O Guarani” e “Ubirajara”). Alencar concilia a prosa do Romantismo com uma fluência poética rara, elevando o livro a um patamar superior ao de mero romance e já anunciando que é um autor visionário: em “Iracema”, ele escreve como se estivesse criando um poema lírico em prosa, demonstrando que é possível transpor o limite de que a prosa deve ser “organizada”, enquanto a poesia se permite maiores “liberdades” nos versos. Assim, ler “Iracema” é como contemplar um belo poema escrito com toda a idealização e lirismo pertinentes, por exemplo, à poesia de Gonçalves Dias; porém, a obra de Alencar consegue se adequar à prosa de maneira exemplar, constituindo um grandioso romance (apesar de sua brevidade em páginas). Outro elemento interessante, ainda referente à linguagem do livro, é a “indigenização” do vocabulário: Alencar teve o cuidadoso esforço de promover uma pesquisa acerca da linguagem indígena, crivando o romance de palavras e termos vernáculos, o que confere à obra uma maior nacionalização e verossimilhança na narração, ao mesmo tempo em que procura se distanciar de estrangeirismos.
Alguns leitores podem, contudo, encontrar certas dificuldades na leitura de “Iracema”, sobretudo aqueles que não têm muito contato com a literatura clássica, ou os que estão mais adaptados a livros cuja linguagem seja contemporânea. Na verdade, isto é bastante compreensível, uma vez que a leitura deste livro requer atenção redobrada até mesmo de quem está acostumado com as obras do período romântico. Duas observações podem ser de grande ajuda nestes casos: dar preferência às edições que possuam notas explicativas (as que contêm notas do próprio autor) e, a principal orientação, que chega a ser um clichê sem tamanho: ler por vontade própria e por iniciativa em querer conhecer o livro, não por pressão ou às pressas. No primeiro caso, a leitura será infinitamente recompensadora; no segundo, pode ser um ato desagradável e incompreensível – como, aliás, ocorre com qualquer outro livro, seja ele clássico ou não.


Pôster da adaptação de "Iracema", de 1979, realizada por Carlos Coimbra.

*Livro disponível para download NESTE LINK.

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