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domingo, 31 de março de 2013


            Um homem de idade já avançada, autointitulado “Dom Casmurro”, se apresenta, disposto a contar sua história; até aí, tudo bem. Entretanto, logo de início, vemos que a história é um grande enigma, onde nada é o que parece à primeira vista. Bento – assim se chama o narrador-personagem – começa a história falando de sua infância, sua família e, o eixo sobre o qual se sustenta toda a obra, sua relação com Capitu, a vizinha que é sua amiga de infância e que futuramente se tornará sua esposa.
                Bento está destinado à vida religiosa por conta de uma promessa feita por sua mãe, antes mesmo de ele nascer. Ainda na infância, ele firma uma forte amizade com Capitu, resultando, posteriormente, na ruptura da promessa materna de ordená-lo padre. Ele vai para o seminário, mas, sob a influência de parentes, de José Dias (agregado de sua família) e da própria Capitu, o jovem é “liberado” de sua missão religiosa. Ainda dentro do seminário, ele conhece Escobar, que virá a se tornar seu melhor amigo. Mais tarde, Bentinho se casa com Capitu, e os dois levam uma vida tranquila e feliz, até que sua felicidade é completada com o nascimento do primeiro filho, Ezequiel.
                Contudo, uma tragédia desaba sobre sua família: a morte de Escobar, o amigo de Bentinho, que também desistira do seminário. Contrariando as expectativas, Bentinho sente ciúmes dos olhares que Capitu dirige ao morto no funeral, e várias “provas” começam a apontar para um suposto caso de adultério cometido pela esposa justamente com o melhor amigo. Uma dessas provas, a seu ver, é a aparência do menino, Ezequiel, que começa a ficar semelhante ao finado, à medida que cresce.
A partir de então, um jogo de duplos sentidos, enigmas e ilusões é atirado na face do leitor, que se sente, invariavelmente, pequeno diante da complexidade da obra do grande Machado. Se por um lado, vemos Bentinho acusando a esposa do mais famoso caso de adultério da literatura brasileira, somos forçados a voltar as páginas e constatar o quanto sua índole é ciumenta e machista (em certo momento, ele diz que se orgulha por o filho não ser ‘maricas’) e ficamos em dúvida sobre a credibilidade dada ao narrador. Até que ponto ele está falando a verdade? Será que o ciúme não confundiu a cabeça dele e o deixou desconfiado sem razão?
Capitu é uma charada à parte. Seus “olhos de ressaca” confundem o marido da mesma forma que a nós, leitores, arrastando-nos para a intrincada forma de agir e pensar feminino, nem sempre evidente. Ela é uma personagem tão bem construída em sua complexidade que, ironicamente, pouco sabemos a respeito dela, exceto o que é dito por Bentinho, o que, convenhamos, não é muito confiável. O marido a molda, ao longo do romance, como melhor lhe convém, da inocência infantil à dissimulação ‘de cigana oblíqua’, e essa última classificação é bem empregada, tendo em mente a maneira desenvolta e muito bem articulada como ela se porta, geralmente senhora da situação. É impossível, então, não averiguar Capitu como suposta  adúltera. Ela é uma mulher forte, mas fica claro que ama o marido.
Este livro é, em minha opinião de leitor, mais uma análise psicológica de Capitu do que a biografia de Bentinho; as entrelinhas provam isso. Entretanto, tudo que o autor vai costurando, quase imperceptivelmente, sob as camadas superficiais da trama apontam para algo maior: a preocupação dele não é mostrá-la como culpada ou inocente, mas devassar a alma de seus personagens, sejam eles Capitu, Bentinho ou qualquer um dos tipos secundários que estão ali, impressos nas páginas mais que vivas.



O livro "Dom Casmurro" está disponível para download através do link abaixo:
terça-feira, 19 de março de 2013



Anjos e demônios é escrito em estilo irresistível e acessível. Você prefere não dormir só para ler mais um pouquinho. Ele trata de questões que passam pela cabeça de todos: a existência de Deus, a possibilidade de se ter fé em um Universo que parece ter profunda indiferença por nós, a reconciliação entre o científico e o espiritual. Só que o livro leva o conflito entre fé e razão a uma conflagração apocalíptica.”
(MARCELO GLEISER, autor de “A Dança do Universo”)

“Uma aventura de tirar o fôlego... Excitante, rápida, com um QI acima da média.”
(San Francisco Chronicle)



                Primeiro livro de Dan Brown a apresentar o professor de Simbologia de Harvard, Robert Langdon, “Anjos e Demônios” é tão eletrizante quanto a obra seguinte, que polemizaria mundialmente o autor: “O Código Da Vinci”.  Nesta primeira história, Dan Brown apresenta uma das melhores tramas já escritas, no que diz respeito ao conflito “religião x ciência”.
                Depois que uma amostra significativa de uma poderosa substância combustível – a antimatéria – é roubada do Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire (CERN), na Suíça, a presença do professor Langdon é solicitada no centro de pesquisas, para decifrar o significado de um símbolo marcado a ferro em brasa no cientista morto, responsável pela produção de antimatéria. Langdon descobre que a marca é um símbolo dos Illuminati, uma antiga sociedade secreta formada por cientistas perseguidos pela Igreja Católica no passado. Logo depois, Langdon descobre o significado do roubo da antimatéria, quando é enviado ao Vaticano (que está em luto pela morte do Papa) e sabe do sequestro dos quatro cardeais mais cotados para a sucessão papal, às vésperas do Conclave.
                Ao que tudo indica, os Illuminati, considerados extintos há muitos séculos, retornaram para concretizar sua lendária vingança, ameaçando matar os cardeais com os quatro elementos (terra, ar, fogo e água) e detonar o dispositivo de antimatéria no centro do Vaticano, destruindo assim o coração da Igreja Católica. Caberá, então, ao professor Langdon, auxiliado pela física Vittoria Vetra, filha do cientista assassinado no CERN, impedir tamanha tragédia.
                Eis aí, em resumo, a trama mirabolante de “Anjos e demônios”; falando assim, parece algo muito complexo... e é, de fato. Porém, um diferencial incrível, ao meu ver, nas obras de Dan Brown é que o autor tem uma habilidade ímpar de ‘popularizar’ seus textos, isto é, mesmo tratando de assuntos delicados, como é o caso da religião, ou hi-tech, como os usos da tecnologia da antimatéria, por exemplo, o leitor não se sente perdido ali. Há toda uma preocupação em transformar a história em uma narrativa acessível, com bastante informação e uma linguagem simples e dinâmica.
                Falando em dinâmica, este é outro ponto favorável neste e nos demais livros do autor: o dinamismo da história. Não temos aqui uma daquelas tramas que fazem uso de muito tempo cronológico para o seu desenvolvimento (semanas, meses, anos...), mas uma história breve e rápida, que se desenrola em poucas horas. Com muita inteligência, Dan Brown nos transporta para uma narrativa muito ágil, ainda que o livro seja volumoso em páginas. Quem conhece o estilo do autor sabe que suas histórias são entremeadas com descrições impecáveis de lugares e acontecimentos, tudo para deixar a leitura mais envolvente e, consequentemente, mais realista. A remodelagem de  fatos históricos é outra marca registrada de Dan Brown, que costura realidade e imaginação com um fio de criatividade tenaz; mesmo que muito do que é explicado ali não corresponda rigorosamente à realidade, o leitor se sente inquieto, curioso para saber até que ponto a inventividade do autor conduzirá a história. Explorando os bastidores do Vaticano e também do centro de pesquisas suíço CERN, somos levados a uma leitura impressionante, nas mãos de um dos poucos autores atuais capazes de nos fazer literalmente viajar nas páginas. 
O livro é, por si só, um jogo de dualidades: temos o conflito entre bem e mal, ciência e religião e a disputa entre fé e razão, tudo resumido no seu título, “Anjos e demônios”, que faz também uma referência literal aos monumentos artísticos que servirão como pistas nessa jornada de Robert Langdon através de Roma. Sem mais delongas, um livro sensacional


O livro "Anjos e Demônios" está disponível para download através do link a seguir: 
sexta-feira, 15 de março de 2013


Obra-prima de Raul Pompeia, “O Ateneu” é um romance que oscila entre a ficção e a realidade; porém, o tema central do livro é universal: a solidão. Sérgio, um menino muito apegado à família, é matriculado num internato, o famigerado Ateneu, escola reconhecida como uma das melhores e mais rigorosas de seu tempo. É aí, centrado nos dois anos em que passou no internato, narrado em primeira pessoa, que se desenrola o drama de uma criança que vê desmoronar os restos de sua infância em meio à dureza de um lugar hostil, composto por figuras arrogantes e hipócritas que mascaram seus defeitos com um jogo de aparências que nem de longe correspondem à realidade.
Sérgio passa a viver num ambiente opressivo, onde ninguém é confiável nem age sem segundas intenções. Todas as suas tentativas de fazer amizades são frustradas, pois paira no lugar um clima sombrio de egoísmo, acentuado pela presença desagradável e caricata do diretor Aristarco, que, assim como todos os demais, tenta passar uma imagem de austeridade quando é, na verdade, um sujeito cínico e amoral. Nesse cenário repleto de acontecimentos de carga emocional pesada, como algumas insinuações homossexuais, ocasionadas pelo isolamento e pelo despertar da sexualidade na adolescência reprimida, Sérgio se vê realmente sozinho, compreendendo, à força as palavras do pai, que lhe diz que ali ele “encontrará o mundo e que deve ser forte para a luta”. Uma luta que revelar-se-á muito mais psicológica do que física. Ao invés de sair do Ateneu fortalecido por uma suposta disciplina escolar, Sérgio sai dali profundamente magoado e traumatizado com as amarguras e constrangimentos por que teve de passar.
“O Ateneu” é um livro complexo, de leitura difícil, é necessário dizer. A linguagem adotada pelo autor é rebuscada, daquelas que exigem um dicionário para sua plena compreensão. Mais que isso, as ideias abordadas pelo autor são angustiantes, de uma carga psicológica sufocante, motivo pelo qual Raul Pompeia é um dos poucos autores do seu tempo a seguir alguns caminhos trilhados por Machado de Assis: um realismo psicológico impressionante, associado também a alguns elementos naturalistas adotados por Aluísio Azevedo. Contudo, “O Ateneu” consegue se distinguir de tudo já produzido, por ter uma narrativa tanto rebuscada quanto irônica, de um ponto de vista amargo e sarcástico. O próprio colégio Ateneu é uma representação do “microcosmo” do País, com sua população cheia de mazelas dirigida, isto é, governada, por um déspota (Aristarco é uma representação ridicularizando o Imperador do Brasil da época).
Tenho que admitir que este é um dos livros mais perturbadores que eu já li. Ele exala um clima tão desagradavelmente realista e sombrio, cheio de sarcasmo e pessimismo que chega a deprimir o leitor. Quanto ao seu conteúdo, ou seja, a busca existencial por amizades, companhia, o medo da solidão e, especialmente, o jogo de aparências que rege a sociedade, desde suas organizações menores (como é o caso do colégio Ateneu), sejamos sinceros: pouca coisa mudou de 1888 (ano de publicação do livro) até hoje...



Para fazer o download de "O Ateneu", no formato PDF, acesse o link a seguir:
domingo, 10 de março de 2013



                A obra mais célebre de Eça de Queirós é também uma das mais envolventes e eróticas de todos os tempos. Em tempos de “ressurreição” do erotismo através de best-sellers de qualidade e conteúdo duvidosos, a fim de fisgar novos públicos através da apelação exagerada (como ocorre na trilogia internacional “Cinquenta tons de cinza”), chega a ser estranho falar desse clássico português. Entretanto, como leitor com um mínimo de senso crítico, devo confessar que nenhuma leitura produziu em mim um efeito mais intrigante, misto de sensualidade e vigor narrativo, do que  esta obra de Eça de Queirós.
            Com um talento único para apontar as falhas e vícios hipócritas da sua época – o que, afinal, era uma das metas fundamentais do Realismo – Eça constrói, aqui, um quadro da vida burguesa, tomando como base o casal Luísa e Jorge, que levam uma vida pacata e relativamente “feliz”, conforme o padrão social da época. Jorge é um engenheiro bem-sucedido que precisa fazer uma viagem a negócios, e deixa Luísa sozinha, quando, justamente, chega à cidade um primo e antigo namorado de Luísa, o famoso Basílio de Brito. Obviamente, o reencontro acenderá antigas chamas e, gradualmente, os dois se envolvem num dos mais conhecidos casos de adultério da literatura ocidental.
            Esta é, justamente, a parte mais lasciva do romance; o autor não faz descrições ridículas e de mau gosto de relações sexuais ou nada do gênero, o que, nem por isso, tira a grandeza erótica deste caso de amor intenso e febril. Ao invés disso, há descrições minuciosas de pequenas atitudes que transpiram sensualidade, seja um sussurro ao pé do ouvido, um toque mais ousado, um pensamento subliminar, um devaneio... Tudo é sugerido numa linguagem sutil, porém vigorosa, que envolve o leitor, ao mesmo tempo em que lhe faz pensar em suas ideias preconcebidas de felicidade, sexo, amor, traição, inveja e tantas outras emoções e “status” do ser humano.
O diferencial de Eça de Queirós vai muito além disso, entretanto; o autor apresenta outros personagens que farão parte da trama, seja como modelo caricato da hipocrisia da sociedade portuguesa, seja como forma de abordar outras facetas do ser humano. Nesta última acepção, encaixa-se Juliana, a criada de Luísa que a infernizará com uma série de exigências, após descobrir seu caso com o primo. As chantagens de Juliana não são exemplos de maldade ou inveja contra a patroa, mas uma forma de suprir, mesmo que de forma inconsequente, a miséria existencial e odiosa em que sua vida se transformou.
            Quanto ao destino da protagonista, Luísa, embora não seja necessariamente previsível, é o que a sociedade moralista espera, ou melhor, exige, para um caso de infidelidade conjugal. Não importam as motivações, o pecado deve ser exemplarmente punido.




Para fazer o download do livro "O primo Basílio", acesse o link a seguir:

sexta-feira, 8 de março de 2013

O Médico e o Monstro

Robert Louis Stevenson

Um clássico que continua assustando e fascinando gerações, assim pode ser definido “O Médico e o Monstro”, um livro sombrio e intrigante onde o autor, R. L. Stevenson, se propõe a discutir a dualidade da natureza humana em suas principais facetas: o bem e o mal, supostamente inatos na psique do homem. Unido a esta investigação, de um ponto de vista ficcional, o livro transpira um clima obscuro e perturbador de tensão e medo, angústia e curiosidade, numa trama genial de suspense policial.
O advogado Utterson recebe, de um conhecido seu, o renomado Dr. Henry Jekyll, alguns documentos confidenciais, incluindo um testamento, onde o mesmo se mostra excepcionalmente permissivo com Edward Hyde, um homem misterioso e imprevisível que vem deixando marcas de sua natureza violenta através da velha e gélida Londres do século XIX. Mais do que apoiar Hyde, o Dr. Jekyll deixa assegurado que tudo quanto possui deve ser entregue a ele, caso o médico venha a sofrer algum imprevisto, como morte ou desaparecimento. Intrigado com as cláusulas desse estranho testamento, Utterson passa a investigar o “protegido” de Jekyll e se lança numa tarefa complexa e confusa, já que Hyde é, além de violento, um sujeito muito difícil de ser visto.
Quando ocorre o assassinato de um importante membro da elite da cidade, testemunhado por uma pessoa que reconhece Hyde como o assassino, Utterson percebe que este homem é mais perigoso do que pensava e tenta alertar Jekyll. A partir de então, estranhos acontecimentos, incluindo certas experiências químicas do doutor na área transcendental da mente, utilizando a si próprio como cobaia, levam o advogado e o leitor a se depararem com um complexo e, agora, fora de controle, segredo de Jekyll, cujas consequências trarão reflexos nefastos para si mesmo e para a vida de todos que o conhecem.

O título da obra sugere uma história de terror, mas não é o caso, necessariamente. O horror de “O Médico e o Monstro” é mais psicológico que físico, o que justifica seu título original: “O Estranho Caso do Dr. Jekyll e de Mr. Hyde”. Em suma, é uma excelente história de mistério que eletriza o leitor, enquanto se tenta, angustiosamente, encontrar as razões e as identidades verdadeiras que motivam as ações desenfreadas e inconsequentes, não apenas dos personagens, mas de todo ser humano. Fica uma pergunta no ar, depois da leitura: será que, independentemente de índole e educação, todos nós, sem exceção, temos um monstro encarcerado na escuridão do nosso subconsciente, que pode vir à tona, se inadvertidamente estimulado?



O texto de "O médico e o monstro" está disponível para download no link abaixo: