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quinta-feira, 14 de novembro de 2013



                É sempre difícil escolher um livro em especial para ser objeto de análise e de uma apreciação – ainda que amadora e superficial – que dignifique a obra. Contudo, pegando carona na abordagem acerca das dualidades humanas na literatura, tão bem registrada por Fernanda Barros, julguei interessante falar algo a respeito de outro clássico que, sob uma perspectiva diferente, também tece intrigantes considerações sobre o tema.

                “Frankenstein”, obra aclamada de Mary Shelley, concebida entre pesadelos e inquietações da autora (tal qual “O Médico e o Monstro”, de Stevenson), é um livro verdadeiramente tenso e sombrio, do tipo que pode causar arrepios e desconforto no leitor. Entretanto, tais sensações estão mais relacionadas ao conteúdo crítico do livro do que pelo clima de terror propriamente dito (o qual, diga-se de passagem, não é tão destacado quanto o cinema pinta, de forma estereotipada). A obra possui, sim, todo um clima gótico e, por diversas vezes, depressivo, uma provável influência de Byron, amigo da autora; entretanto, o diferencial do livro é a discussão implícita sobre a dualidade da alma humana, a qual estão entrelaçados valores morais (bem, mal) e estéticos, como a ditadura da perfeição física.
                Em “Frankenstein”, o ponto de partida adotado é a obsessão pela ‘cura’ da morte ou, mais precisamente, a superação da mesma através de métodos ilícitos; tais métodos não são especificados, mas a autora faz menção a galvanismo e outros procedimentos científicos de efeitos discutíveis, que geram ainda controvérsias nos campos da medicina e da ética. Obcecado pela ideia de poder criar um ser vivo ‘melhorado’ através de experimentos bizarros, o Dr. Victor Frankenstein (personificação da ânsia insaciável do homem pelo conhecimento) constrói a famigerada e horrenda criatura dotada de vida, a quem logo despreza, ao tomar consciência – demasiadamente tarde – do quão desastrosa fora sua experiência. Horrorizado ao finalmente ver a sua criação concluída de maneira tão grotesca, Frankenstein, o criador, abandona o “monstro” à própria sorte.
                Mais do que simbolicamente, o abandono da criatura pelo criador nos faz refletir acerca do maniqueísmo e dos rótulos predeterminados pela aparência: quem é, afinal, o monstro? A criatura, cujo aspecto físico é repulsivo, mas é inicialmente inofensivo, ou o criador, homem respeitável perante a sociedade, que não quer assumir as responsabilidades que lhe são pertinentes diante do fracasso de sua obra? A dualidade da alma humana, em seus aspectos primordiais (bem e mal) é trabalhada de maneira representativa; o conflito é visto, sob uma visão superficial, como o mesmo de “O Médico e o Monstro”, embora aqui as personalidades aparentemente opostas estejam separadas em dois indivíduos distintos, não fazendo parte do mesmo organismo, como ocorre na obra de R. L. Stevenson.
O bem é representado pelo Dr. Frankenstein, enquanto o mal é sintetizado em sua criatura abominável... mas, até que ponto? Até que ponto os seres se conservam bons ou maus? Embora Frankenstein tenha tido em vista um progresso científico, o que devia encaixá-lo na categoria de “bom”, nota-se que ele possui ganas de se destacar por seu feito, tornar-se célebre, o que deve situá-lo numa categoria menos favorável do ponto de vista moral. Paralelamente, a criatura não é má por natureza; no início é apenas um ser confuso, que não sabe se comunicar, teme os homens e envergonha-se de sua triste figura física. O desprezo dos seres humanos pelo seu aspecto (note-se aqui a estética da beleza física implícita, mas evidente) o faz desgostar-se com a humanidade, sendo, por assim dizer, obrigado a odiá-la. Daí, surge o desejo de vingar-se, tornar-se odioso e mau, uma vez que fracassou na tentativa de “ser bom”. A vingança contra seu criador é, de fato, execrável, mas até certo ponto justificável pela Lei de Talião: olho por olho, dente por dente. Os sofrimentos e perturbações que ele impõe a Frankenstein são, afinal, pouca coisa comparados à vida desgraçada e forçadamente isolada que o monstro é condenado a viver.
Mary Shelley desejava escrever apenas um conto de terror que, nas palavras da própria autora, fosse capaz de gelar o sangue do leitor. Embora certamente ela tenha conseguido tal feito, pôde simultaneamente construir uma importante alegoria a respeito de valores e questões intrínsecas à existência humana. Some-se a isto uma linguagem fluente, rápida e dinâmica e será possível fazer clara ideia do conteúdo de seu livro monstruosamente humano.


"Frankenstein de Mary Shelley" (1994), de Kenneth Branagh: uma fiel e cuidadosa adaptação do livro clássico.

O livro "Frankenstein" está disponível para download, no formato PDF NESTE LINK.
terça-feira, 12 de novembro de 2013

     Em agradecimento ao convite recebido para adentrar neste macrocosmo tão vasto de leituras compartilhadas, através de elevados e propícios pontos de vista, recorro a uma artimanha reles, porém necessária. Eis a explicação sucinta: ao acessar o blog, deparo-me com o comentário crítico da obra "O Médico e o Monstro" e eis que surge do meu intrínseco a grande verve de também arriscar minhas considerações a respeito de "um clássico que continua assustando e fascinando gerações", como bem evidenciou o meu amigo e idealizador do blog, no início de seu texto, o qual encontra-se no seguinte link de acesso: http://metamorfosedaleitura.blogspot.com.br/2013/03/sobre-o-livro.html.

     Apesar de ser, de fato um clássico, tive o incrível prazer de conhecer a obra, em seu texto completo, somente este ano. E assim que a temática - a respeito de um ser que se transforma em outro e vice-versa - apareceu relembrei de outra obra (mania de nerds alucinados por leitura!!!!!): "O Lobo da Estepe" do Hermann Hesse, pois há nesta obra o enfoque do homem e dos seus instintos animais, provando assim o quanto somos vários ou no mínimo dois. Dois seres com apenas algo em comum: o ser que os resguarda.
     No caso de "O Médico e o Monstro" até mesmo a aparência física era modificada sempre que Hyde aparecia, incialmente de maneira forçada através das fórmulas devidamente preparadas por Jekyll e, mais tarde, não havia mais o controle científico de quando Hyde apareceria, mesmo quando o "elixir" não era absorvido pelo organismo do médico. Esse descontrole aparece também na obra de Hesse, mas de maneira mais sutil: o lobo não consegue ficar trancafiado sempre que alguma situação social o força a moderar-se, a entrar no jogo hipócrita do "como agir para agradar a todos?". E essa mesma questão podemos analisar no cerne da obra de Stevenson, pois Jekyll declara em sua carta o quanto precisava da presença de Hyde, já que tudo aquilo que este fazia (e com tamanho desembaraço, muitas vezes) jamais poderia ser feito por aquele, homem de renome, reconhecido por seus trabalhos e elevados préstimos à sociedade londrina.
     A dúvida existe nas duas obras: o lobo ou o homem? o médico ou o monstro? Há como separar as duas disparidades se elas são concentradas, por mais absurdo e insano que pareça, num mesmo e único ser? Jekyll, em seu final tresloucado, mas ainda com réstias de consciência, conclui que não poderia optar por Hyde, por mais que este fosse a sua forma de ganhar liberdade para fazer e agir o que bem lhe entendesse e a quem quisesse, não importando em nada os malefícios causados a outros. Raciocina ele que se Hyde fosse o ser que permanecesse estaria desamparado em diversos aspectos e um deles era o desamparo da racionalidade tão presente em si mesmo, ou melhor dizendo, em Jekyll.
     E é metamorfoseado em Jekyll-Hyde que o corpo da dualidade forçada é narrado ao leitor. E nesta parte da obra, veio-me à mente mais uma: "A Metamorfose" do grande Kafka. Gregor Samsa "simplesmente" amanhece tal qual um inseto (não, Kafka nunca quis demarcar qual inseto e é uma heresia fazê-lo nós mesmos!) e o livro todo ele entra em combate com sua condição física, com seus instintos, com suas memórias e seus pensamentos atormentadores atuais e, assim, mais uma vez temos a dualidade, a batalha entre o que pensamos ser e o que detestamos que, de alguma forma, pudéssemos ser ou sermos entendidos e vistos.
 
     De certa maneira, "o outro", "o monstro", "o bicho", "o selvagem" é oriundo do medo, da agonia, do desespero sobre a opinião alheia, sobre como seremos analisados e medidos. É por esse meio que a outra parte se revela, mesmo quando é escondida a sete chaves no âmago mais profundo e obscuro do ser. É por ser amordaçada que a besta (a última referência nerd da postagem, já que estou finalizando a mesma: em "Viagem ao redor do meu quarto" do escritor francês Xavier de Maistre, o qual teve como leitor Machado de Assis, faz nascer em seu livro diversas teorias incríveis e uma delas é sobre "a alma e a besta" e esta última é a responsável por todas as atitudes arbitrárias e incomuns, as quais a alma jamais teria coragem e/ou determinação) procura e encontra a verve da saída para mostrar-se e chocar, certamente, a profusa notoriedade do meio social.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013


“Comovente, sugestivo, esperançoso... Fala diretamente ao coração.”
(The New York Times Book Review)

            No cenário alemão devastado pela Segunda Guerra e ainda num frágil processo de reconstrução – inclusive moral – o jovem Michael Berg conhece Hanna Schmitz, com quem inicia um caso amoroso conturbado e misterioso. Porém, algumas peculiaridades deixam marcas perenes neste romance; Michael tem apenas 15 anos, enquanto Hanna é vinte anos mais velha; o relacionamento entre eles é breve, mas contextualizado pela descoberta do sexo (para ele) e da literatura (para ela), uma vez que fica claro um “ritual” rotineiro para os encontros de ambos: Michael lê para Hanna trechos de obras clássicas e, depois, eles fazem amor.
                Entretanto, como já mencionado, o romance entre eles não é tão simplista, mas, pelo contrário, crivado de pequenos incidentes, que produzem um jogo de dilemas, segredos e vergonhas. O relacionamento deles dura apenas um verão, depois do que Hanna desaparece sem deixar pistas. A princípio, Michael fica inquieto e sente remorsos por julgar-se culpado da partida de Hanna, mas algum tempo depois ele a reencontra. Contudo, as circunstâncias desse reencontro são radicalmente diversas para as posições que ambos ocupam: Michael é estudante de Direito; Hanna, uma acusada de crimes de guerra, responsável por extermínios de judeus em Auschwitz.
                É necessariamente a partir desse reencontro que o livro de Bernhard Schlink ganha contornos mais densos e psicologicamente mais agudos, embora desde o início da narrativa o autor demonstre sutil perspicácia em evidenciar detalhes que fundamentem o lado subliminar da obra. A inquietação de Michael pela descoberta do amor platônico/carnal é registrada em poucas palavras, mas organizadas de forma expressiva, o que torna a leitura rápida e fluente, ainda que carregada de reflexões. Talvez isto seja efeito da habilidade de Schlink em condensar ideias sem deixar de lado a sensibilidade necessária à compreensão e empatia do leitor com o romance.
A cada encontro de Michael e Hanna, antes da separação, podem-se perceber, implicitamente, as trocas de olhar, os gestos, até parte dos pensamentos dos personagens, sempre meio encobertos, evidenciando que suas mentalidades não são maniqueístas, mas multifacetadas – em especial a de Hanna, de quem nunca temos informações suficientes para saber quem ela é (ou foi) realmente.
A narração em primeira pessoa, pelo próprio Michael também mostra grande complexidade de sua psicologia: do fascínio exercido pela presença e contato com Hanna à dúvida de como prosseguir quando a reencontra; deveria ele interceder a favor dela, sabendo que essa mesma interferência poderia expô-la a uma humilhação que a seu ver é pior que a acusação por que está passando? Esse dilema é um eixo fundamental à obra, conduzida a partir disso por profundas reflexões que transcendem o mero ressentimento por um romance juvenil; Schlink faz seu romance oscilar desse drama a discussões sobre erros, falhas e vergonhas humanas, não apenas do ponto de vista pessoal e íntimo, mas também de forma genérica, ao abordar as consequências do Holocausto, da guerra e da inércia das pessoas diante de tais horrores, cujas marcas poderão cicatrizar, mas nunca serão esquecidas ou apagadas da História.
Não bastasse essa profundidade crítica no livro de Schlink, temos ainda um desfecho inusitado na história de Michael e Hanna que, embora “merecido”, sob certos aspectos, comove o leitor, especialmente porque antes de tal desfecho, ela, Hanna, atinge sua redenção e supera sua maior vergonha. Resumindo: um livro sublime.


Pôster da adaptação de "O Leitor" (The Reader, 2008), de Stephen Daldry, para o cinema. 
Para informações sobre o filme, acesse ESTE LINK.

O texto do livro "O Leitor" está disponível para download através DESTE LINK.
segunda-feira, 26 de agosto de 2013


O jovem e fútil Dorian Gray, herdeiro de uma grande fortuna em Londres, encanta a todos que o conhecem, não apenas por sua herança, mas, principalmente, por sua beleza incomum. Tamanho é o fascínio provocado que o pintor Basil Hallward propõe-se a fazer um retrato do rapaz. Realizada a obra, Dorian Gray conhece Henry Wotton, um sujeito hipócrita e muito habilidoso com as palavras, que tornar-se-á o amigo mais próximo de Dorian.
Com seu talento único para manipular as pessoas através do sarcasmo, Henry deixa claro para Dorian o quanto sua beleza e juventude são passageiras, enquanto o quadro pintado por Hallward permanecerá “jovem” e belo para sempre. Dorian Gray, ingênuo e supérfluo como é, desespera-se com essa possibilidade de envelhecer e morrer e, de certa forma, lança sua própria maldição ao manifestar seu desejo em permanecer jovem para sempre, de modo que o retrato envelheça em seu lugar; Dorian enfatiza que daria tudo pela realização deste sonho, até mesmo sua alma. A partir de então, o rapaz passa gradativamente por uma transformação tão grande em sua personalidade que, ao fim do livro, é difícil crer que o jovem seja aquele mesmo do início.
“O retrato de Dorian Gray” é, indubitavelmente, uma das obras mais influentes e atemporais que se pode conhecer. Nela, Oscar Wilde registra com maestria diversas críticas à sociedade inglesa de seu tempo (críticas essas que permanecem sempre atuais e universais, apesar do tempo). Eu nunca tinha lido uma obra tão completa e, ao mesmo tempo, tão equilibrada ao falar da efemeridade da beleza física, da hipocrisia, dos valores morais e, de forma discreta, até fazer certas insinuações homossexuais – motivo pelo qual o livro sofreu perseguições e tornou-se polêmico, “maldito”. Dorian é, inicialmente, uma representação fiel da ingenuidade do ser humano, que se deixa seduzir e corromper pela influência de fatores externos, acelerados pelos instintos: a vaidade, o sexo, as más companhias, os vícios, etc.
Um personagem importantíssimo no contexto da trama é Henry Wotton; ele não se limita a ser um personagem secundário, eclipsado por Dorian. Na verdade, vemos o inverso na maior parte da história: Dorian é quem se sente pequeno diante da “filosofia” de Henry, tornando-se, quase que involuntariamente, seu discípulo na forma distorcida e hedonista de ver o mundo e seus prazeres inconsequentes. É difícil imaginar personagens mais humanos – no sentido mais fraco da palavra; nem Dorian, nem Henry são maniqueístas, nenhum deles é bom ou mau. Enquanto Dorian Gray representa, gradativamente, a alma humana, sempre se degradando pela sedução do “mundo”, Henry Wotton é a crítica irônica em pessoa. É possível notar, em suas palavras cheias de lábia, o sarcasmo do próprio autor, Wilde, ao falar das fraquezas e mazelas da sociedade do seu tempo.
Obviamente, o ponto central da obra é o próprio quadro que dá nome ao livro; ao ‘trocar de lugar’ com seu retrato, Dorian sente-se livre para se deixar corromper física e moralmente, afinal seu corpo, sua beleza (e, afinal, é só isso que conta para a sociedade: o aspecto externo) permanecem intactos, mesmo com o passar de décadas. Enquanto isso, o quadro vai acumulando os erros do modelo, apodrecendo e envelhecendo, descontando na tela os pecados de Gray. O retrato mágico de Dorian Gray passa a ser, a partir de então, seu segredo fatal, segredo pelo qual ele está disposto a matar, se necessário.
A obra de Oscar Wilde é, por isso, um clássico que não envelhece – sem trocadilhos. Nela, podemos ver o quanto a ditadura da beleza e os falsos valores morais são temas sempre atuais, independentemente da época. Uma mistura de romance, suspense e crítica social imprescindível a qualquer amante da literatura.


A adaptação cinematográfica de "O retrato de Dorian Gray" (1945), de Albert Lewin, considerada a melhor já feita. 
Para informações sobre o filme, acesse ESTE LINK.

Para fazer o download do livro "O retrato de Dorian Gray" (formato PDF), acesse o link disponibilizado a seguir:


quarta-feira, 21 de agosto de 2013



Ed Kennedy é tudo, menos um herói... Na verdade, ele é, nas próprias palavras, um "perdedor", alguém sem perspectivas de vida, cercado de amigos tão fracassados quanto ele. Com 19 anos, o que ele fez de importante na vida? Segundo ele, "porra nenhuma". Ele sobrevive com um emprego mesquinho de taxista, vive sozinho (a não ser pela companhia de um cachorro fedorento, viciado em café), é órfão de pai e têm uma mãe rabugenta que o odeia. 
                Ele vai levando essa vida inerte e sem muito significado (embora muito bem-humorada), até que acontece o improvável: ele consegue impedir um assalto a banco e prender o bandido, meio que sem querer, claro, já que ele se autodefine como um "cagão". Por esse ato de heroísmo, sua fama se espalha pela cidade e, do nada, ele começa a receber cartas misteriosas pelo correio. Não são cartas comuns, epístolas, mas cartas de BARALHO, sem muitas informações, a não ser algum nome, uma charada e um ou outro endereço. A partir daí, como qualquer pessoa que não tem nada a perder, Ed vai atrás dos endereços indicados, a fim de descobrir a que se referem. Resumidamente, essa busca por significados o levará a refletir profundamente sobre o poder que cada pessoa tem de fazer algo pelo outro, atitudes simples que podem mudar uma vida, incluindo a própria, que vai se transformando pouco a pouco em uma profunda jornada de autoconhecimento, desprendimento e superação de limites pessoais.
Este é, sem dúvida, um dos melhores e mais incomuns livros que eu já tive a oportunidade de conhecer, começando pela linguagem despojada, crivada de palavrões do início ao fim (prepare-se para ler muitos "porra" e "merda", só para citar os mais leves) e uma informalidade que chegou a me assustar nas primeiras páginas. O autor, Markus Zusak, o mesmo de "A menina que roubava livros", apresenta um livro que opta pela simplicidade na narração, que é grosseira e coloquial, mas ainda assim de leitura muito agradável e, o melhor, sem os típicos sermões de bem e mal e "moral da história". É interessante observar que Zusak cria personagens despojados de maniqueísmos; todos eles têm, ao seu modo, forças e fraquezas – e o autor satiriza bem estas últimas.
“Eu sou o mensageiro” é um livro bastante criativo, onde eu, assim como qualquer leitor que venha a conhecer, senti-me preso num suspense interessante, com o jogo de pistas sugerido pelas cartas e pela irreverência e trapalhadas de Ed, um personagem que não é muito carismático no início, mas por quem é impossível sentir indiferença no decorrer da história. Outro ponto interessante é que a estrutura da trama funciona como uma série de códigos, embora simplificados, provavelmente para forçar o protagonista a pensar em respostas e tomar atitudes, pois nenhuma das pistas dadas a ele diz exatamente o que fazer. Cabe a ele desvendar cada mistério e ir à pista seguinte, terminando com a esperada recompensa.
Naturalmente, por mais bem-humorado que o livro “Eu sou o mensageiro” seja, não é uma leitura apenas para rir, mas também para refletir sobre as atitudes, mesmo que mínimas, que o ser humano pode e deve tomar em relação aos outros, independentemente de conhecer seus dramas pessoais ou não. A narrativa em primeira pessoa deixa clara a insegurança de Ed e não são poucas as vezes em que ele erra feio na “decodificação” de sua jornada; porém, é recompensador ver o personagem se transformando gradativamente em um ser capaz e determinado. O leitor projeta-se em Ed Kennedy e, embora não queira apanhar tanto quanto ele (!), sente-se inspirado a mudar o mundo, prestar atenção nos detalhes que podem fazer toda a diferença. Somente um escritor hábil consegue causar essa empatia no leitor.



Para fazer o download do livro "Eu sou o mensageiro", no formato PDF, acesse o link:
domingo, 31 de março de 2013


            Um homem de idade já avançada, autointitulado “Dom Casmurro”, se apresenta, disposto a contar sua história; até aí, tudo bem. Entretanto, logo de início, vemos que a história é um grande enigma, onde nada é o que parece à primeira vista. Bento – assim se chama o narrador-personagem – começa a história falando de sua infância, sua família e, o eixo sobre o qual se sustenta toda a obra, sua relação com Capitu, a vizinha que é sua amiga de infância e que futuramente se tornará sua esposa.
                Bento está destinado à vida religiosa por conta de uma promessa feita por sua mãe, antes mesmo de ele nascer. Ainda na infância, ele firma uma forte amizade com Capitu, resultando, posteriormente, na ruptura da promessa materna de ordená-lo padre. Ele vai para o seminário, mas, sob a influência de parentes, de José Dias (agregado de sua família) e da própria Capitu, o jovem é “liberado” de sua missão religiosa. Ainda dentro do seminário, ele conhece Escobar, que virá a se tornar seu melhor amigo. Mais tarde, Bentinho se casa com Capitu, e os dois levam uma vida tranquila e feliz, até que sua felicidade é completada com o nascimento do primeiro filho, Ezequiel.
                Contudo, uma tragédia desaba sobre sua família: a morte de Escobar, o amigo de Bentinho, que também desistira do seminário. Contrariando as expectativas, Bentinho sente ciúmes dos olhares que Capitu dirige ao morto no funeral, e várias “provas” começam a apontar para um suposto caso de adultério cometido pela esposa justamente com o melhor amigo. Uma dessas provas, a seu ver, é a aparência do menino, Ezequiel, que começa a ficar semelhante ao finado, à medida que cresce.
A partir de então, um jogo de duplos sentidos, enigmas e ilusões é atirado na face do leitor, que se sente, invariavelmente, pequeno diante da complexidade da obra do grande Machado. Se por um lado, vemos Bentinho acusando a esposa do mais famoso caso de adultério da literatura brasileira, somos forçados a voltar as páginas e constatar o quanto sua índole é ciumenta e machista (em certo momento, ele diz que se orgulha por o filho não ser ‘maricas’) e ficamos em dúvida sobre a credibilidade dada ao narrador. Até que ponto ele está falando a verdade? Será que o ciúme não confundiu a cabeça dele e o deixou desconfiado sem razão?
Capitu é uma charada à parte. Seus “olhos de ressaca” confundem o marido da mesma forma que a nós, leitores, arrastando-nos para a intrincada forma de agir e pensar feminino, nem sempre evidente. Ela é uma personagem tão bem construída em sua complexidade que, ironicamente, pouco sabemos a respeito dela, exceto o que é dito por Bentinho, o que, convenhamos, não é muito confiável. O marido a molda, ao longo do romance, como melhor lhe convém, da inocência infantil à dissimulação ‘de cigana oblíqua’, e essa última classificação é bem empregada, tendo em mente a maneira desenvolta e muito bem articulada como ela se porta, geralmente senhora da situação. É impossível, então, não averiguar Capitu como suposta  adúltera. Ela é uma mulher forte, mas fica claro que ama o marido.
Este livro é, em minha opinião de leitor, mais uma análise psicológica de Capitu do que a biografia de Bentinho; as entrelinhas provam isso. Entretanto, tudo que o autor vai costurando, quase imperceptivelmente, sob as camadas superficiais da trama apontam para algo maior: a preocupação dele não é mostrá-la como culpada ou inocente, mas devassar a alma de seus personagens, sejam eles Capitu, Bentinho ou qualquer um dos tipos secundários que estão ali, impressos nas páginas mais que vivas.



O livro "Dom Casmurro" está disponível para download através do link abaixo:
terça-feira, 19 de março de 2013



Anjos e demônios é escrito em estilo irresistível e acessível. Você prefere não dormir só para ler mais um pouquinho. Ele trata de questões que passam pela cabeça de todos: a existência de Deus, a possibilidade de se ter fé em um Universo que parece ter profunda indiferença por nós, a reconciliação entre o científico e o espiritual. Só que o livro leva o conflito entre fé e razão a uma conflagração apocalíptica.”
(MARCELO GLEISER, autor de “A Dança do Universo”)

“Uma aventura de tirar o fôlego... Excitante, rápida, com um QI acima da média.”
(San Francisco Chronicle)



                Primeiro livro de Dan Brown a apresentar o professor de Simbologia de Harvard, Robert Langdon, “Anjos e Demônios” é tão eletrizante quanto a obra seguinte, que polemizaria mundialmente o autor: “O Código Da Vinci”.  Nesta primeira história, Dan Brown apresenta uma das melhores tramas já escritas, no que diz respeito ao conflito “religião x ciência”.
                Depois que uma amostra significativa de uma poderosa substância combustível – a antimatéria – é roubada do Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire (CERN), na Suíça, a presença do professor Langdon é solicitada no centro de pesquisas, para decifrar o significado de um símbolo marcado a ferro em brasa no cientista morto, responsável pela produção de antimatéria. Langdon descobre que a marca é um símbolo dos Illuminati, uma antiga sociedade secreta formada por cientistas perseguidos pela Igreja Católica no passado. Logo depois, Langdon descobre o significado do roubo da antimatéria, quando é enviado ao Vaticano (que está em luto pela morte do Papa) e sabe do sequestro dos quatro cardeais mais cotados para a sucessão papal, às vésperas do Conclave.
                Ao que tudo indica, os Illuminati, considerados extintos há muitos séculos, retornaram para concretizar sua lendária vingança, ameaçando matar os cardeais com os quatro elementos (terra, ar, fogo e água) e detonar o dispositivo de antimatéria no centro do Vaticano, destruindo assim o coração da Igreja Católica. Caberá, então, ao professor Langdon, auxiliado pela física Vittoria Vetra, filha do cientista assassinado no CERN, impedir tamanha tragédia.
                Eis aí, em resumo, a trama mirabolante de “Anjos e demônios”; falando assim, parece algo muito complexo... e é, de fato. Porém, um diferencial incrível, ao meu ver, nas obras de Dan Brown é que o autor tem uma habilidade ímpar de ‘popularizar’ seus textos, isto é, mesmo tratando de assuntos delicados, como é o caso da religião, ou hi-tech, como os usos da tecnologia da antimatéria, por exemplo, o leitor não se sente perdido ali. Há toda uma preocupação em transformar a história em uma narrativa acessível, com bastante informação e uma linguagem simples e dinâmica.
                Falando em dinâmica, este é outro ponto favorável neste e nos demais livros do autor: o dinamismo da história. Não temos aqui uma daquelas tramas que fazem uso de muito tempo cronológico para o seu desenvolvimento (semanas, meses, anos...), mas uma história breve e rápida, que se desenrola em poucas horas. Com muita inteligência, Dan Brown nos transporta para uma narrativa muito ágil, ainda que o livro seja volumoso em páginas. Quem conhece o estilo do autor sabe que suas histórias são entremeadas com descrições impecáveis de lugares e acontecimentos, tudo para deixar a leitura mais envolvente e, consequentemente, mais realista. A remodelagem de  fatos históricos é outra marca registrada de Dan Brown, que costura realidade e imaginação com um fio de criatividade tenaz; mesmo que muito do que é explicado ali não corresponda rigorosamente à realidade, o leitor se sente inquieto, curioso para saber até que ponto a inventividade do autor conduzirá a história. Explorando os bastidores do Vaticano e também do centro de pesquisas suíço CERN, somos levados a uma leitura impressionante, nas mãos de um dos poucos autores atuais capazes de nos fazer literalmente viajar nas páginas. 
O livro é, por si só, um jogo de dualidades: temos o conflito entre bem e mal, ciência e religião e a disputa entre fé e razão, tudo resumido no seu título, “Anjos e demônios”, que faz também uma referência literal aos monumentos artísticos que servirão como pistas nessa jornada de Robert Langdon através de Roma. Sem mais delongas, um livro sensacional


O livro "Anjos e Demônios" está disponível para download através do link a seguir: 
sexta-feira, 15 de março de 2013


Obra-prima de Raul Pompeia, “O Ateneu” é um romance que oscila entre a ficção e a realidade; porém, o tema central do livro é universal: a solidão. Sérgio, um menino muito apegado à família, é matriculado num internato, o famigerado Ateneu, escola reconhecida como uma das melhores e mais rigorosas de seu tempo. É aí, centrado nos dois anos em que passou no internato, narrado em primeira pessoa, que se desenrola o drama de uma criança que vê desmoronar os restos de sua infância em meio à dureza de um lugar hostil, composto por figuras arrogantes e hipócritas que mascaram seus defeitos com um jogo de aparências que nem de longe correspondem à realidade.
Sérgio passa a viver num ambiente opressivo, onde ninguém é confiável nem age sem segundas intenções. Todas as suas tentativas de fazer amizades são frustradas, pois paira no lugar um clima sombrio de egoísmo, acentuado pela presença desagradável e caricata do diretor Aristarco, que, assim como todos os demais, tenta passar uma imagem de austeridade quando é, na verdade, um sujeito cínico e amoral. Nesse cenário repleto de acontecimentos de carga emocional pesada, como algumas insinuações homossexuais, ocasionadas pelo isolamento e pelo despertar da sexualidade na adolescência reprimida, Sérgio se vê realmente sozinho, compreendendo, à força as palavras do pai, que lhe diz que ali ele “encontrará o mundo e que deve ser forte para a luta”. Uma luta que revelar-se-á muito mais psicológica do que física. Ao invés de sair do Ateneu fortalecido por uma suposta disciplina escolar, Sérgio sai dali profundamente magoado e traumatizado com as amarguras e constrangimentos por que teve de passar.
“O Ateneu” é um livro complexo, de leitura difícil, é necessário dizer. A linguagem adotada pelo autor é rebuscada, daquelas que exigem um dicionário para sua plena compreensão. Mais que isso, as ideias abordadas pelo autor são angustiantes, de uma carga psicológica sufocante, motivo pelo qual Raul Pompeia é um dos poucos autores do seu tempo a seguir alguns caminhos trilhados por Machado de Assis: um realismo psicológico impressionante, associado também a alguns elementos naturalistas adotados por Aluísio Azevedo. Contudo, “O Ateneu” consegue se distinguir de tudo já produzido, por ter uma narrativa tanto rebuscada quanto irônica, de um ponto de vista amargo e sarcástico. O próprio colégio Ateneu é uma representação do “microcosmo” do País, com sua população cheia de mazelas dirigida, isto é, governada, por um déspota (Aristarco é uma representação ridicularizando o Imperador do Brasil da época).
Tenho que admitir que este é um dos livros mais perturbadores que eu já li. Ele exala um clima tão desagradavelmente realista e sombrio, cheio de sarcasmo e pessimismo que chega a deprimir o leitor. Quanto ao seu conteúdo, ou seja, a busca existencial por amizades, companhia, o medo da solidão e, especialmente, o jogo de aparências que rege a sociedade, desde suas organizações menores (como é o caso do colégio Ateneu), sejamos sinceros: pouca coisa mudou de 1888 (ano de publicação do livro) até hoje...



Para fazer o download de "O Ateneu", no formato PDF, acesse o link a seguir:
domingo, 10 de março de 2013



                A obra mais célebre de Eça de Queirós é também uma das mais envolventes e eróticas de todos os tempos. Em tempos de “ressurreição” do erotismo através de best-sellers de qualidade e conteúdo duvidosos, a fim de fisgar novos públicos através da apelação exagerada (como ocorre na trilogia internacional “Cinquenta tons de cinza”), chega a ser estranho falar desse clássico português. Entretanto, como leitor com um mínimo de senso crítico, devo confessar que nenhuma leitura produziu em mim um efeito mais intrigante, misto de sensualidade e vigor narrativo, do que  esta obra de Eça de Queirós.
            Com um talento único para apontar as falhas e vícios hipócritas da sua época – o que, afinal, era uma das metas fundamentais do Realismo – Eça constrói, aqui, um quadro da vida burguesa, tomando como base o casal Luísa e Jorge, que levam uma vida pacata e relativamente “feliz”, conforme o padrão social da época. Jorge é um engenheiro bem-sucedido que precisa fazer uma viagem a negócios, e deixa Luísa sozinha, quando, justamente, chega à cidade um primo e antigo namorado de Luísa, o famoso Basílio de Brito. Obviamente, o reencontro acenderá antigas chamas e, gradualmente, os dois se envolvem num dos mais conhecidos casos de adultério da literatura ocidental.
            Esta é, justamente, a parte mais lasciva do romance; o autor não faz descrições ridículas e de mau gosto de relações sexuais ou nada do gênero, o que, nem por isso, tira a grandeza erótica deste caso de amor intenso e febril. Ao invés disso, há descrições minuciosas de pequenas atitudes que transpiram sensualidade, seja um sussurro ao pé do ouvido, um toque mais ousado, um pensamento subliminar, um devaneio... Tudo é sugerido numa linguagem sutil, porém vigorosa, que envolve o leitor, ao mesmo tempo em que lhe faz pensar em suas ideias preconcebidas de felicidade, sexo, amor, traição, inveja e tantas outras emoções e “status” do ser humano.
O diferencial de Eça de Queirós vai muito além disso, entretanto; o autor apresenta outros personagens que farão parte da trama, seja como modelo caricato da hipocrisia da sociedade portuguesa, seja como forma de abordar outras facetas do ser humano. Nesta última acepção, encaixa-se Juliana, a criada de Luísa que a infernizará com uma série de exigências, após descobrir seu caso com o primo. As chantagens de Juliana não são exemplos de maldade ou inveja contra a patroa, mas uma forma de suprir, mesmo que de forma inconsequente, a miséria existencial e odiosa em que sua vida se transformou.
            Quanto ao destino da protagonista, Luísa, embora não seja necessariamente previsível, é o que a sociedade moralista espera, ou melhor, exige, para um caso de infidelidade conjugal. Não importam as motivações, o pecado deve ser exemplarmente punido.




Para fazer o download do livro "O primo Basílio", acesse o link a seguir:

sexta-feira, 8 de março de 2013

O Médico e o Monstro

Robert Louis Stevenson

Um clássico que continua assustando e fascinando gerações, assim pode ser definido “O Médico e o Monstro”, um livro sombrio e intrigante onde o autor, R. L. Stevenson, se propõe a discutir a dualidade da natureza humana em suas principais facetas: o bem e o mal, supostamente inatos na psique do homem. Unido a esta investigação, de um ponto de vista ficcional, o livro transpira um clima obscuro e perturbador de tensão e medo, angústia e curiosidade, numa trama genial de suspense policial.
O advogado Utterson recebe, de um conhecido seu, o renomado Dr. Henry Jekyll, alguns documentos confidenciais, incluindo um testamento, onde o mesmo se mostra excepcionalmente permissivo com Edward Hyde, um homem misterioso e imprevisível que vem deixando marcas de sua natureza violenta através da velha e gélida Londres do século XIX. Mais do que apoiar Hyde, o Dr. Jekyll deixa assegurado que tudo quanto possui deve ser entregue a ele, caso o médico venha a sofrer algum imprevisto, como morte ou desaparecimento. Intrigado com as cláusulas desse estranho testamento, Utterson passa a investigar o “protegido” de Jekyll e se lança numa tarefa complexa e confusa, já que Hyde é, além de violento, um sujeito muito difícil de ser visto.
Quando ocorre o assassinato de um importante membro da elite da cidade, testemunhado por uma pessoa que reconhece Hyde como o assassino, Utterson percebe que este homem é mais perigoso do que pensava e tenta alertar Jekyll. A partir de então, estranhos acontecimentos, incluindo certas experiências químicas do doutor na área transcendental da mente, utilizando a si próprio como cobaia, levam o advogado e o leitor a se depararem com um complexo e, agora, fora de controle, segredo de Jekyll, cujas consequências trarão reflexos nefastos para si mesmo e para a vida de todos que o conhecem.

O título da obra sugere uma história de terror, mas não é o caso, necessariamente. O horror de “O Médico e o Monstro” é mais psicológico que físico, o que justifica seu título original: “O Estranho Caso do Dr. Jekyll e de Mr. Hyde”. Em suma, é uma excelente história de mistério que eletriza o leitor, enquanto se tenta, angustiosamente, encontrar as razões e as identidades verdadeiras que motivam as ações desenfreadas e inconsequentes, não apenas dos personagens, mas de todo ser humano. Fica uma pergunta no ar, depois da leitura: será que, independentemente de índole e educação, todos nós, sem exceção, temos um monstro encarcerado na escuridão do nosso subconsciente, que pode vir à tona, se inadvertidamente estimulado?



O texto de "O médico e o monstro" está disponível para download no link abaixo: