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terça-feira, 21 de outubro de 2014



Entre os maiores mistérios existenciais da espécie humana, um dos mais aterradores, juntamente com o drama da própria morte, é a existência do Mal; não um mal metafórico, figurativo, ou ancorado em princípios éticos de comportamento, mas o Mal palpável, demoníaco, referente à existência do Diabo, do Inferno e de sua influência perniciosa e destrutiva sobre o ser humano. Tal perspectiva, que não deixa de estar intrinsecamente ligada a religião, sempre sofreu ‘intervenções’ por parte da ciência e, em particular, da medicina, como se uma delas tivesse o poder de anular ou descartar inteiramente a outra.
                Baseando-se com maestria nesse conflito entre fé e ciência relativamente à demonologia, William Peter Blatty construiu um dos mais perturbadores e célebres romances de terror de todos os tempos: “O Exorcista”, êxito que se repetiu na adaptação cinematográfica realizada logo após seu lançamento.
                Em resumo, trata-se da história de Chris McNeil, uma atriz e mãe de uma garota pré-adolescente que passa a manifestar um comportamento bizarro e violento, inexplicavelmente. A princípio, a garota (Regan) é submetida a uma extenuante série de exames – alguns deles bastante invasivos – a fim de se diagnosticar a causa de seus problemas aparentemente psicológicos. Contudo, após todos os exames, onde fica claro que ela não tem nenhum problema mental, e ao passo que a situação ainda assim se agrava cada vez mais, resta apenas recorrer a um meio “alternativo”: um exorcismo.
                A partir de então, obra de Blatty desenvolve-se por meio da alternância entre a visão científica para o exorcismo (através do termo autossugestão) e a perspectiva da Igreja, a qual ainda crê na sua eficácia, mas exige comprovação de que os supostos endemoninhados não são apenas portadores de desvios psicológicos. Para promover essa visão dual sobre o exorcismo, Blatty apresenta Damien Karras, um padre e psiquiatra que está sofrendo de uma crise de falta de fé, acentuada com a morte recente da mãe. Caberá a ele a árdua missão de desvendar e lidar com a força maligna que está possuindo Regan.
                Os personagens de Blatty, com ênfase em Chris e Karras, são multidimensionais, abordados em suas diversas facetas psicológicas, o que por si só situa o livro num patamar muito mais elevado do que o de mero horror. A história possui a densidade necessária para sugar o leitor a um universo de dúvidas quanto ao que acreditar. Os próprios conflitos existenciais de Karras e suas numerosas dúvidas entre a fé e a ciência o tornam um personagem genuinamente humano, no sentido mais simplista e limitado da palavra. Ele, sendo um clérigo, deveria exercer mais fé na sua crença, enquanto, por sua vez, sendo psiquiatra, poderia crer na medicina e na ciência como um todo de modo a corroborar seus princípios. Entretanto, o que vemos é um ser atormentado pelo vácuo da sua própria vida, fragilizado pelas perdas e que, num último esforço de se provar capaz, encara a pequena Regan como o desafio que pode, ainda que inconscientemente, redimi-lo e fazê-lo restituir sua própria fé, o que será alcançado com o auxílio de outro personagem, não menos importante: o ancião padre Merrin. Este ganha destaque já no final do livro, mas sua participação no desenlace da história é crucial.
                Longe de ser uma obra rasa de horror sobrenatural ou, como alguns pensam, um livro apológico sobre cultos demoníacos, “O Exorcista” é, antes de tudo, uma perturbadora viagem psicológica nos labirintos do bem e do mal, da ciência e da religião e suas ambiguidades. Há, sim, uma história sobrenatural aterradora, perversa, bem como detalhadas informações sobre cultos satânicos (com destaque na Missa Negra), possessões, exorcismos e sobre o demônio abordado na obra: Pazuzu.
                Uma história de terror profunda, mas, ao mesmo tempo, escrita com simplicidade, sem floreios nem pedantismo, aliada a uma grande riqueza de detalhes informativos, tudo isso contribui para fazer de “O Exorcista” um livro essencial aos amantes de obras inteligentes, independentemente do gênero. 

Pôster da premiada adaptação de "O Exorcista", de William Friedkin, de 1973

*O livro está disponível para download (PDF) NESTE LINK.