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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014


O microbiologista Felix Rossi, juntamente com um pequeno grupo de outros cientistas, está examinando o Santo Sudário (o tecido que supostamente serviu de mortalha ao corpo de Jesus Cristo). Entretanto, secretamente, o Dr. Rossi furta alguns fiapos ensanguentados do Sudário, com o audacioso plano de realizar um clone do Filho de Deus. A partir de então, ele dá andamento a uma jornada exaustiva para a consumação deste plano, em especial a busca por uma “mãe” para o clone, caso a experiência dê certo.
Em síntese, essa é a ideia central do livro de Jamilla Lankford, um projeto que do ponto de vista informativo funciona bem melhor do que como ficção. Expliquemos o porquê.
Como trata de uma dupla polêmica (clonagem e a “humanidade” de Cristo), o romance é bastante competente nas suas descrições científicas, abordando a clonagem sob uma perspectiva “didática”, muito acessível à compreensão dos leitores que, assim como eu, não têm graduação em Biologia ou especialização em Engenharia genética. As informações sobre o Sudário também são resultado de competentes pesquisas, embora essa história de “ressuscitar” o Salvador através da tecnologia não seja necessariamente uma novidade na literatura de ficção científica.
Lankford, entretanto, apresenta seu romance sob uma perspectiva mais humanizada – uma vez que seu projeto tem em vista a criação de um ser humano como outro qualquer através da manipulação de DNA, deixando de lado, até certo ponto, a condição divina de Cristo. Até aí tudo bem; contudo, a história criada pela autora para abordar esse tema carece de ação e até mesmo de personagens mais interessantes e polivalentes. Excetuando-se o protagonista, Dr. Felix, cujas motivações para a criação do clone são realmente interessantes e valem a leitura, os demais personagens são rasos e não têm o peso necessário para ter importância na história. Até mesmo a mãe que Felix arranja para o clone é uma personagem frágil e sem graça, o que é justificado pelo fato de ela ser uma “reconstrução” de Maria: abnegada e inteiramente entregue à sua fé.
 De fato, nota-se que Lankford tenta reconstruir, a seu modo, uma Segunda Vinda de Cristo, traçando paralelos entre a sua obra e o texto bíblico. Assim, há uma Maria (Maggie), que aceita a missão de ser a mãe do Filho de Deus, um José (Sam), o homem que a ama, mesmo sem poder tê-la fisicamente até o nascimento da criança e até um Herodes (o milionário Brown, que vê seu império ameaçado pela vinda desta criança e pretende executá-la).
Todavia, a história flui muito lentamente, com um desenvolvimento previsível ao longo de suas mais de 380 páginas. Talvez a falta de reviravoltas no livro, bem como a carência de tensão tenha sido a intenção da autora, mais preocupada com os pequenos dramas pessoais dos personagens, em uma busca espiritual rasa do que com os desdobramentos reais da experiência do Dr. Rossi, os quais são apenas superficialmente apresentados no decorrer do livro, ganhando mais consistência com a proximidade do clímax. Esse ápice é o ponto mais importante do texto e pelo menos aqui a autora costura o nascimento da criança com os eventos turbulentos decorrentes dele de forma muito verossímil e frenética, apresentando o caos sensacionalista da mídia, inclusive, depois que a notícia do clone vaza abertamente. Contudo, passados esses bons momentos, o livro volta ao seu patamar original de obra rasa e encerra-se com um final meio frustrante, provavelmente aberto a uma sequência.
Para finalizar, se me perguntam se “O Clone de Cristo” é um livro ruim, eu respondo que depende do que se espera dele: se é um romance policial à maneira de Dan Brown, esqueça, pois no livro de Lankford não há a ação vertiginosa nem os personagens enigmáticos que acarretam tantas reviravoltas ao longo do texto num ritmo de tirar o fôlego. Não, nada disso.

Ainda assim, para mim a leitura valeu a pena pelas informações científicas e pelo embate entre ciência e religião – um de meus temas prediletos – mesmo que a autora não tenha sido tão bem-sucedida na construção da história.