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quinta-feira, 16 de julho de 2015
"Minha principal angústia e a
fonte de todas as minhas alegrias e sofrimentos desde a juventude tem sido a
incessante, impiedosa batalha entre o espírito e a carne... e minha alma é a
arena onde esses dois exércitos têm lutado."
“ – Ele é o Senhor, não é? Pode, portanto,
fazer o que bem entende. Se ele não fosse capaz de cometer injustiças, que tipo
de Onipotência teria?”
“Pilatos sorriu:
– O que quer dizer verdade?
O coração de Jesus contraiu-se de
tristeza. Assim era o mundo. Assim são os governantes. Eles perguntam o que é a
verdade e riem.”
Só pelo título já é possível
conjeturar as razões pelas quais este livro foi “amaldiçoado” por diversos
grupos religiosos conservadores e, obviamente, pela Igreja acabando por ir
parar naquele badalado rol de obras que os fiéis não devem ler se desejarem ir
para o Céu: o Index Librorum Prohibitorum.
Eu achava que seria algo
desrespeitoso, grosseiro ou caricato, que justificasse tanta perseguição e
condenação da obra, mas o que vi foi um livro maravilhoso no qual o autor traça
um formidável exercício criativo. Jesus é representado de forma totalmente
humana, inseguro e vulnerável às tentações da carne, mas isso de nenhuma forma
diminuiu ou ridicularizou sua imagem para mim (eu sou cristão: não que isso
faça diferença). Para mim não é necessário ter de escolher acreditar em um ser
inalcançável e perfeito ou num ser humano de carne e osso como nós, e ainda
assim ser “divino”, capaz de se sacrificar por seus ideais e por amor, acima de
tudo. Na verdade, a representação física de um ícone, a meu ver, tende a
aproximar o adorador à coisa/ser adorado, mostrando que tal ícone é palpável,
mais real, não inteiramente etéreo.
Kazantzakis fez uma excelente
releitura da história de Cristo, sem adulterar os evangelhos, mas recriando a
trajetória do Salvador (particularmente seu calvário pessoal, crivado de
tentações) num contexto carnal, material, como ele bem explica já no prólogo, o
qual reflete o conflito entre a carne e o espírito que acompanha não apenas o
personagem, mas os seres humanos em geral, independentemente de crença – ou
falta dela.
Naturalmente, por contexto e
temática, “A última tentação de Cristo” lembra o também controverso livro de
José Saramago, “O evangelho segundo Jesus Cristo”, mas é possível notar que o
primeiro é mais formal, simples e sensível, apesar da escrita vigorosa,
enquanto o livro de Saramago possui uma abordagem mais crua, rigorosa e
preocupada com a estética narrativa que caracteriza o autor.
Finalizando, recomendo muito “A
última tentação de Cristo” aos leitores que têm mente aberta e ávida por novas
perspectivas (do ponto de vista literário e ficcional, ressalte-se), deixando
de lado convicções religiosas durante a leitura, porque este não
é um livro com a finalidade de ofender ou abalar os pilares de nenhuma crença. É, sim, um livro provocante, mas por suscitar
reflexões muito mais intrínsecas do ser humano: suas angústias, aflições e
dúvidas atemporais entre a carne (matéria) e a essência que nos define (o
espírito). Nesse aspecto é uma obra-prima.
Cena do filme "A última tentação de Cristo"(1988), de Martin Scorsese, adaptado do romance de Kazantzakis
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