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sexta-feira, 7 de novembro de 2014




Constance, uma aristocrata britânica criada no seio de uma família relativamente liberal, é casada com Clifford Chatterley, que retorna da Primeira Guerra paralítico em consequência do conflito. O casal vive em uma majestosa propriedade rural inglesa, acompanhado apenas de alguns criados e da enfermeira de Clifford (que, posteriormente torna-se governanta da casa). Naquele ambiente bucólico, Constance conhece Oliver Mellors, o guarda-caça do marido e acaba por se envolver em um tórrido relacionamento sexual com ele.
Basicamente é esta a premissa do romance de David Herbert Lawrence; contudo, a obra não fica presa no modelo simplista de mais um livro sobre adultério feminino. Publicada já no século XX, a obra de Lawrence é estruturalmente inovadora em vários aspectos, sendo, sem dúvida, a abordagem sexual aberta um dos mais relevantes. Lawrence utiliza, nas constantes descrições e diálogos eróticos uma linguagem bastante crua e direta, sem eufemismos no que se refere ao ato sexual, que é mencionado em detalhes objetivos. O tratamento liberal dado ao sexo justifica por que “O amante de Lady Chatterley” gerou tanto escândalo na sua época e até problemas judiciais, o que resultou na censura de trechos mais explícitos do livro. Apenas à beira da década de 60 o texto integral foi liberado e chegou a ser conhecido amplamente.
Como já mencionado, o romance difere da maioria das histórias clássicas sobre adultério da literatura ocidental (como ‘Madame Bovary’ e ‘O primo Basílio’), especialmente porque, neste caso, a mulher tem plena consciência de seus atos, não estando seduzida pelo homem, deixando-se levar por inércia e ilusões românticas. Longe disso, Constance foi educada sob frouxos e inovadores princípios morais (já não era virgem quando se casou) e compreende seu papel ‘feminista’ como ser humano ativo, sem a passividade característica das personagens femininas nas obras do século XIX. Lady Chatterley é um símbolo da mulher do novo século, que anseia por liberdade sexual e a alcança tanto em ações quanto em pensamento. Não são raras as ocasiões em que Constance conversa abertamente sobre sexo e orgasmo com o marido inválido (ele deseja um herdeiro e até sugere que ela engravide de alguma ‘aventura’ externa) e com Mellors, de quem realiza as fantasias e vice-versa.
Entretanto, a obra de Lawrence projeta-se além do apelo carnal imperioso dos personagens: ele discute a modernização, acima de tudo; seja a própria concepção moderna do sexo, isto é, o desfrute dele sem o pudor hipócrita e os estigmas das épocas passadas, seja através do conceito mais concreto da palavra ‘moderno’ numa escala global: a industrialização. O livro fala amplamente acerca da industrialização que cada vez mais mecaniza o ser humano e suas relações na sociedade, evidenciando, paralelamente, o contraste entre a zona rural – onde se passa a maior parte da história – e a cidade, que cresce e gera lucros exorbitantes para alguns, enquanto outros são explorados em sua mão de obra.  
De uma forma ou de outra, o livro de Lawrence lida com a dualidade; figurativamente, ressaltando a força e vigor instintivo e emocional do ser humano apoiados em um ambiente natural (o campo) e a perda da naturalidade de suas relações (inclusive a intimidade) através do artificialismo moderno e da mecanização da sociedade urbana. Nota-se, por fim, que “O amante de Lady Chatterley” é um romance paradoxal e complexo, insinua-se pelos caminhos da psicologia dos personagens e de questões sociais, as quais se mesclam ao erotismo e resultam em uma obra relevante. 


Pôster da adaptação cinematográfica de "O amante de Lady Chatterley", de 1981, dirigida por Just Jaeckin. Como grande parte dos clássicos, o romance teve várias versões para o cinema.


Este livro está disponível para download em PDF NESTE LINK.


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